sábado, 31 de outubro de 2015

O desenvolvimento embrionário e o design inteligente



(Espermatozoide fecundando o óvulo. Ilustração: koya979 / Shutterstock.com)
A notícia chegou de uma forma meio inusitada. Minha esposa e eu, após cinco anos, decidimos que já estava na hora de termos outro bebê. Agora que a nossa filha mais velha já tem mais autonomia e liberdade para fazer certos tipos de coisas, resolvemos dá à ela um irmãozinho(a). Minha esposa parou de tomar o anticoncepcional e, mais ou menos 40 dias depois fomos à médica para que ela passasse os exames necessários para sabermos se estava tudo bem. Mas para nossa surpresa, minha esposa já estava grávida de seis semanas. Pelas contas, ela teria engravidado já na primeira semana após a última menstruação. Já no primeiro ultrassom, foi possível ver o “saco vitelino” e aquele pequeno ser nas suas primeiras fases de desenvolvimento embrionário. Aproveitando a oportunidade, tive a ideia de fazer algumas postagens analisando a complexidade de cada fase de gestação, a interação mamãe-bebê e os processos de desenvolvimento semanalmente, demonstrando e extrema complexidade da gestação e a impossibilidade de uma explicação naturalista.

Fecundação

Após o ato sexual, milhões de espermatozoides “nadam” em direção ao útero. Essas células reprodutoras são produzidas nos testículos, que são verdadeiros mestres da produção em massa, cuspindo espermatozoides a uma taxa de 200 milhões por dia,numa prefeita linha de montagem. [1] Assim que o espermatozoide entra em contato com o corpo da mulher, começa toda a “magia”. A vagina é revestida por epitélio estratificado pavimentoso, cujas células produzem glicogênio usado para fermentação pelos Lactobacillus acidophilus (bacilos de Döderlein), liberando ácido lático. Isso confere ao meio vaginal um pH ácido, que impede a proliferação da maioria dos micro-organismos patogênicos. Acontece que o pH do sêmen está entre 7,0 e 8,3 e ao entrar em contato com a vagina, ocorreria a morte instantânea dos gametas. Com o pH alcalino do sêmen, o pH da vagina passa, em 10 segundos, de 3,5 para 7,2, permitindo a sobrevivência dos espermatozoides [2]. Essa mudança é indispensável para que os espermatozoides não morram ao entrar em contato com a mucosa vaginal. Isso ocorre, porque os espermatozoides são depositados durante a ejaculação no meio vaginal, protegidos pelo líquido seminal e não isolados. O líquido seminal, inicialmente “coagulado” é lentamente diluído pela acidez vaginal e seus componentes alcalinos funcionam como um tampão. Ao líquido seminal se associa a ação alcalinizante (básica, oposto de ácido) das secreções vaginais que surgem durante a excitação sexual, bloqueando a acidez vaginal em segundos e mantendo o pH adequado à sobrevida espermática por entre 6 e 16 horas [3]. O interessante é que se não ocorresse essa mudança de pH a nova vida já seria eliminada logo no início.

Dos cerca de 300 milhões de espermatozoides eliminados na ejaculação, apenas cerca de 300 atingem a tuba uterina, e somente um fecunda o Ovócito.  A ovulação ocorre através da pressão exercida pelo folículo maduro na superfície do ovário fazendo com que se inicie uma isquemia o que contribui para o enfraquecimento dos tecidos, facilitando a saída do ovócito. Esse ovócito, se desprende do ovário e segue em direção ao útero, impulsionado pelas contrações da tuba uterina e pelos movimentos ciliares do seu epitélio. A presença do ovócito é fundamental na aquisição, antes da fertilização, de propriedades funcionais por parte do espermatozoide, e também imprescindível para a ativação do metabolismo celular do ovócito, o qual será encarregado de conduzir o desenvolvimento durante os primeiros momentos após a fecundação. Como resultado da fecundação, dois padrões serão definidos em princípio: o complemento cromossômico diploide (2n) e o sexo cromossômico (XX, fêmea, e XY, macho). Os espermatozoides só conseguem encontrar o ovócito porque são atraídos por uma substância liberada pelas células foliculares. [4]


Quando o espermatozoide encontra com o ovócito, ele se depara com uma grande “barreira” que impede que ele penetre no óvulo: a corona radiata, um grupo de células foliculares que envolvem o ovócito. Acredita-se que a enzima hialuronidase, liberada do acrossoma do espermatozoide, é responsável pela dispersão das células foliculares da corona radiata. Mas não é só isso que facilita a passagem:  os movimentos da cauda do espermatozoide junto às enzimas da mucosa tubária também contribuem bastante. Além de estruturas semelhantes a “arpões”, pequenos filamentos que existem para ajudar o espermatozoide a se fixar na parede do óvulo e fecundá-lo. [5] Algumas das glicoproteínas presentes nesta zona são receptores específicos da espécie no momento da fertilização. Ou seja, somente espermatozoide humano consegue fecundar óvulo humano.

Após passar pela corona radiata e ao atingir a zona pelúcida, o espermatozoide sofre alterações formando a membrana de fecundação, que impede a penetração de outros espermatozoides no ovócito [6]. Ou seja, somente um consegue atingir seu objetivo. Isso ocorre devido à uma reação química que causa um bloqueio à polispermia.
  

O óvulo humano normalmente é fertilizado na ampola da tuba uterina e sua segmentação ocorre à medida que ele se desloca passivamente na direção do útero. Após a entrada do espermatozoide, o ovócito secundário termina sua divisão meiótica, formando um óvulo maduro. Começa então uma complexa sequência de eventos moleculares coordenados que se inicia com o contato entre um espermatozoide e um ovócito e termina com a mistura dos cromossomos maternos e paternos, resultando no zigoto, um embrião unicelular.

      Todo esse processo dura cerca de 24 horas. Já nesse início de formação, as interações devem ser perfeitas, pois quaisquer alterações ocorridas em qualquer estágio dessa sequência, podem causar a morte do zigoto. Esse zigoto, (com 46 cromossomos) é formado da união das duas células. Seus núcleos perdem as membranas e se fundem, dando origem ao início da vida humana. Após a formação do zigoto, começa o processo de sucessivas divisões mitóticas, que resultam em um rápido aumento de células. O zigoto primeiramente se divide em duas células, chamadas de blastômeros, e estes se dividem em quatro blastômeros, estes quatro se dividem em oito e assim sucessivamente. Estas divisões ocorrem enquanto o zigoto atravessa a tuba uterina, em direção ao útero, e geralmente iniciam 30 horas após a fertilização. As repetidas divisões formam uma esfera compacta de células, denominada mórula.

Aproximadamente quatro dias após a fertilização, a mórula penetra no útero e, nesse estágio, surgem espaços entre os blastômeros que são preenchidos por líquidos provenientes da cavidade uterina. Com o aumento de líquido, as células são divididas em duas camadas, uma camada interna (ou embrioblasto) e uma camada externa (ou trofoblasto). Logo os espaços se fundem, e dão origem a uma só cavidade, denominada cavidade blastocística. A partir deste momento, o concepto passa a ser chamado de blastocisto.

O blastocisto permanece livre na cavidade uterina por apenas um ou dois dias, após os quais ele se implantará na parede do útero por ser envolvido pela secreção das glândulas endometriais. Na fase de blastocisto, a zona pelúcida se desfaz, permitindo que as células do trofoblasto, que têm o poder de invadir as mucosas, entrem em contato direto com o endométrio, ao qual se aderem. Ele emite substâncias químicas que debilitam o sistema imunológico da mulher dentro do útero para que este pequeno corpo estranho não seja rejeitado pelo corpo da mãe. Na realidade, é a existência de uma intensa comunicação materno-embrionária que, ao conduzir ao aumento da produção de progesterona na mãe para garantir a manutenção da gestação, também impede a rejeição do blastocisto no exato momento da nidação. Após a nidação, começa a multiplicação intensa das células do trofoblasto que vão assegurar a nutrição do embrião à custa do endométrio.

As células do trofoblasto produzem enzimas que digerem localmente o endométrio, onde ele se fixa promovendo a implantação ou nidação do embrião no interior da mucosa uterina. A implantação inicia-se por volta do sexto dia e, aproximadamente no nono dia após a fertilização, o embrião se encontra totalmente mergulhado no endométrio, do qual receberá proteção e nutrição até o fim da gravidez [7].

Por volta do décimo dia, estágio em que o embrião já está totalmente implantado no endométrio surge uma grande cavidade envolvendo o âmnio e o saco vitelino primitivo, denominada celoma extraembrionário. O saco vitelino primitivo diminui de tamanho, e surge o saco vitelino secundário, que desempenha importante papel na transferência seletiva do líquido nutritivo para o disco embrionário. Por volta do 14° dia, o embrião ainda apresenta a forma de um disco bi laminar, e células hipoblásticas, formam uma área espessa circular, denominada placa pré-cordal, que indica o futuro local da boca, a região cranial do embrião. Enquanto todo esse processo está ocorrendo dentro do corpo da mãe, provavelmente ela ainda nem saiba que dentro do seu útero já está sendo formado um novo ser.

Esses são os primeiros dias gestacionais, marcado por reações químicas e interações que necessitam de uma interdependência mútua e perfeita. A complexidade irredutível de cada uma dessas fases, faz nos pensar como seria possível que todos esses processos fossem resultado de uma evolução cega e ao acaso. Até que esses mecanismos bioquímicos evoluíssem, como os seres humanos sobreviveram? Para que a evolução fosse crível, todas essas interações teriam que ter evoluído simultaneamente, de forma que a transição ainda fosse funcional. Por isso que eu não tenho fé para ser evolucionista, pois diante de nós está uma das mais marcantes provas de um designer inteligente.

Na próxima postagem, daremos continuidade a essa maravilhosa viagem pelos processos gestacionais e a demonstração da perfeição e da complexidade de todo o processo, onde falaremos um pouco sobre a gastrulação e o início da morfogênese.

Prof. Saulo Nogueira
Colaborou nesse artigo: Everton Fernando Alves - Enfermeiro - Mestre em Ciências da Saúde pela UEM.

Esse vídeo resume muito bem essa primeira fase:


Referências:

Sadler, TW. Langman. Fundamentos de embriologia médica. Rio de Janeiro (RJ): Guanabara Koogan; 2007.

MOORE, K.L.; PERSAUD, T.V.N. The developing human: clinically oriented embryology. 7ª ed. Elsevier. USA, 2003.


Fonte: Logos.






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